quarta-feira, março 15, 2006

CORAGEM

O tempo falta. E se tivesse mais tempo, talvez me faltasse energia. E se tivesse energia, talvez me faltasse vontade. E se tivesse vontade, talvez me faltasse coragem. E se eu tivesse coragem, talvez eu quisesse ter menos tempo.
Na realidade a vontade é que o tempo pare, congele em um momento bom. Assim, o resto do tempo seria uma fotografia de um sorriso, de um céu bem bonito ou do meu filho dormindo, tocando ou brincando com aquela carinha de anjo que veio cuidar de mim.
Mas o tempo congelado podia também ter som. De chuva caindo no telhado, de riso de criança, ou de uma gargalhada bem dada, mesmo. Ou até trilha sonora. Podia ser violões, bandolins, violinos, flautas e contrabaixos. Umas pessoas cantando. O meu filho inventando uma música em uma língua desconhecida.
Cheiro também seria bom! Cheiro de chocolate derretendo. Ou cheiro de chuva molhando a terra seca há mais de dois meses, ou de grama recém cortada ou aquele cheirinho que todo bebê tem e que o meu filho aos pouquinhos está perdendo e trocando por um outro cheiro bem diferente, porém igualmente bom. Cheiro que eu vou me lembrar para o resto da minha vida.
Por que, infelizmente o tempo não se congela e essas coisas boas vão acabar em algum momento deixando de estar presentes e se transformando em simples lembranças. Lembranças muito boas.
Por isso eu queria que o tempo parasse. Porque eu não tenho coragem, nem vontade, nem energia e muito menos tempo para aproveitar da forma como eu deveria as coisas que – eu sei – vão acabar como lembranças.