quarta-feira, agosto 30, 2006

Vou tirar você do dicionário

Eu vou tirar do dicionário a palavra "você"
Vou trocar-lá em miúdos
Mudar meu vocabulário e no seu lugar vou colocar outro absurdo
Eu vou tirar suas impressões digitais da minha pele
Tirar seu cheiro dos meus lençóis, o seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar outra gramática
Eu vou tirar você de mim, assim que descobrir com quantos "nãos" se faz um "sim"
Eu vou tirar o sentimento do meu pensamento sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento a qualquer momento, procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós, o dito pelo não tido
Eu vou tirar você de letra nem que tenha que inventar outra gramática
Eu vou tirar você de mim, assim que descobrir com quantos "nãos" se faz um "sim"

Itamar Assumpção


PS. "Certas canções que ouço, cabem tão dentro de mim, que perguntar carece, como não fui em quem fiz..."

segunda-feira, agosto 28, 2006

? quem?

Quanto do que eu escrevo vem de mim? Quanto do que eu escrevo vai pra você? E quanto vem dessa parte de mim que não sou eu? Que se monta de um jeito que eu sei que te agrada e se disfarça de mim mesma e escreve pra você?
Mas você, não o você de verdade, mas um você que eu criei, que é só meu, que vive só pra mim e me ama além de tudo e adora ler as coisas que eu mesma escrevo pra você!

sexta-feira, agosto 25, 2006

F.R.I.E.N.D.S

Eu tenho um amigo que é um amigo de verdade.
Desses que eu sei que vou levar pro resto da minha vida.
Desses que eu sei que posso contar em qualquer momento.
Desses pro qual também eu, vou estar disponível a qualquer hora, pra qualquer coisa.
Meu amigo já se divertiu - se diverte ainda - muito comigo.
Damos algumas boas gargalhadas juntos.
Eu já o vi chorar. Uma vez. Uma única vez. E esse fato definitivamente abalou as minhas estruturas, por que pra mim, ele nunca pode chorar.
Ele já me incentivou um bocado de vezes em um bocado de coisas. Ele cuidou e cuida de mim com um carinho que poucos têm.
Eu já ocupei noites e mais noites, ocupei ouvidos, ombros e colos com minhas choradeiras e lamentações, já desfiei um rosário inteiro de lágrimas esperando só que ele me dissesse "tá tudo bem, vai passar!". E muitas vezes ele o fez.
Só que a minha choradeira continuou e ele, talvez já cansado de me ver sofrer, me aconselhou a cair fora. Mudar o rumo dessa prosa, mudar os ares, os cheiros, os temas. Só que eu não fiz.
Eu desobedeci ao meu amigo querido. E desobedeci displiscentemente.
Desobedeci só porque eu ainda acredito no que eu sinto e acho ainda válido dar mais um tempo (quanto tempo for necessário até que eu ache que chegou a hora de eu cair fora).
Eu espero que você, meu amigo, me perdoe por isso. Desculpa por eu ser tão cabeça dura e só querer ouvir o que eu quero escutar.
Prometo que vou tentar não encher mais seus ouvidos com as minhas lamentações, quando eu estiver cabisbaixa, mas que vou me lembrar de comemorar com você quando estiver feliz.
Desculpa, amigo, por eu ser assim. Desculpa se eu te envergonho e se te deixo com raiva; tudo que eu ainda faço é movido por um sentimento muito grande, no qual eu ainda acredito.
E se no final das contas, mas final, final mesmo eu acabar quebrando a cara, eu espero poder contar com você e seus ombros pra eu poder chorar as minhas dores de amor.
Desculpa, obrigada e te amo.

quinta-feira, agosto 24, 2006

...

Em homenagem ao aniversário da minha queria tia Suzana vai uma frase do Nelson Carvalho (irmão do tio Ney) que uma vez ela me escreveu (no meu aniversário de 18 anos, há aguns poucos anos atrás) e que agora devolvo, com muito prazer.

"Terminantemente me oponho ao encarceiramento dos sonhos e à limitação da paixão"

Amém.

terça-feira, agosto 22, 2006

sssssshhhhhhhhh

O seu silêncio me incomoda. Me incomoda por que ele não me diz nada.
Por que tem uns silêncios que querem dizer tudo, que dão todo um significado pra determinadas situações, mas o seu silêncio não me diz absolutamente nada.
E o que é pior é que invariavelmente, quando nós dois estamos sozinhos, a situação nos leva a um silêncio sem fim, mas eu sei o que me faz ficar calada. Sei muito bem. Eu não quero que você fique constrangido com o que eu sinto, mais uma vez. Com esse amor com o qual você não tem idéia do que fazer. Um amor que você sabe que existe, pois eu mesma já te falei, mas que ouvir dele, ali, assim na sua cara te faz calar mais ainda. E eu não gosto do seu silêncio.
Mas o por que que você se cala quando estamos só nós dois é o que eu queria saber... Você tem também medo de falar? De dizer como se sente? Ou você não quer mesmo dizer nada? Não tem nada a me dizer no meu silêncio que me deixa surda?
Não me diz nada.
Nada.
Fale alguma coisa, peloamordedeus!!!

domingo, agosto 20, 2006

enquanto eu

Hoje, enquanto eu dormia, algumas pessoas já trabalhavam.
Enquanto eu acordava, algumas pessoas iam dormir.
Enquanto eu ia pro trabalho, eu olhei pela janela e vi um céu sem nuvens mas com uma grande camada de poeira no horizonte.
Enquanto eu tomava café, meu computador se inicializava.
Enquanto eu trabalhava, eu ouvia música.
Enquanto eu almoçava, eu conversava com meus amigos.
Enquanto eu bebia café, eu espantava o meu sono.
Enquanto eu voltava de metrô, eu escutava a conversa da família ao meu lado.
Enquanto eu comprava roupas, eu me sentia bem.
Enquanto eu estava no cinema, o São Paulo perdia a final da Copa Libertadores da América.
Enquanto eu escrevia um tanto de besteiras, meu pensamento não parou aqui.
Enquanto eu tentava dormir o meu sono fugia.
Enquanto eu sonhava, eu ainda não tinha dormido.
Enquanto eu lia, o sono chegou.

segunda-feira, agosto 14, 2006

uma história velha, mas nem tanto...

Minha cabeça se enche de pensamentos quando eu me deparo com a sua escova de dentes esquecida no armário do banheiro.
Penso mil coisas. Penso em como ela foi parar ali. Em que momento você achou necessário ter em minha casa uma escova de dentes. Se passou pela sua cabeça a freqüência com que ela seria usada ou durante quanto tempo ela seria útil esporadicamente.
Penso também em como ela está lá guardada e nenhuma das pessoas que usam esse banheiro e têm as suas próprias escovas penduradas nesse mesmo armário, nenhuma dessas pessoas sabe a quem a escova verde pertence. Só eu. Penso se os outros usuários do banheiro se indagam de quem seria aquela escova a mais que está ali pendurada.
Fico pensando se você se lembra que ela existe aqui. Se pensa em, de vez em quando, fazer em minha casa, a sua profilaxia dental.
As vezes penso se devo jogá-la fora ou guardá-la em outro lugar. Mas não. Por enquanto ela vai ficando por ali mesmo. Não sei se com uma ponta de esperança que você venha escovar os seus dentes em minha companhia ou se simplesmente como uma recordação de alguns momentos bons que tive ao seu lado. Não sei.
Mas por enquanto ela fica lá, verde, pendurada, com responsabilidades e compromentimentos demais para uma simples escova de dentes...

quarta-feira, agosto 09, 2006

muito, demais, mais do que cabe aqui

Eu sou demais. Não, não. Não me deu uma crise de auto-estima super elevada nem nada. Isso é apenas uma constatação.
É que eu sou empolgada demais. Eu espero demais. Conto demais com o sentimento dos outros. Sinto demais. Me apaixono demais. Amo demais. Sofro demais. Choro demais. Eu como demais. Engordo demais. Eu falo demais, céus como eu falo! Eu durmo demais e tenho sono demais. Eu quero demais, desejo demais. Eu me dedico demais. Muito mais do que mereciam.
Quando a gente faz tudo assim, exageradamente é um problema, por que nada nunca basta. Nunca você tem de volta o suficiente, por que se dá demais. Mais do que o normal. Mais do que pessoas comuns conseguem retribuir.
Injusto se eu exigir que alguém me ame como eu amo, por que é muito? Por que é demais?
Mas agora, eu decidi que também não vou ficar aí, vivendo de migalhas e restos. Não, sabe por que?
É que eu sou boa demais, mulher demais pra isso.
E já me cansei demais.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Humpf

Ah!!! Seu moleque! Isso lá é coisa que se faça? Eu sou uma mulher séria. Não sou qualquer menininha dessas suas aí, não. Trate de me levar a sério e não me fazer mais sofrer. Chega dessa brincadeirinha de você me dar um gostinho e na hora que eu quero mais você me cortar. Chega!!!
Vamos esclarecer uma coisinha aqui, de uma vez por todas. A parte que eu te amo você já conseguiu entender, né? E a parte que eu quero passar o resto da minha vida com você, captou? Tá, e a parte que eu te quero o tempo todo de uma forma louca, como nunca quis ninguém na minha vida, está claro?
Meu Deus!!! Então falta o que??? Pelo menos me diz o que tá faltando. Eu não posso mais ficar sem entender isso.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Futuro do pretérito. De um futuro mais que perfeito

Seria melhor do que tudo o que eu desejo! Escolheria com você os móveis da casa onde nós iríamos morar. E tiraríamos na sorte a cor dos estofados e a quantidade de cadeiras que teria a nossa mesa de jantar.
E faríamos um banheiro com duas pias e dois chuveiros – mas um bem pertinho do outro.
A nossa cama, teríamos que encomendar por que não seria num tamanho padrão. Nós dois não cabemos em uma cama padrão. Na verdade nós dois não cabemos em uma vida padrão. Nossa história nunca foi padrão, nunca foi reta.
Nós discutiríamos a respeito da raça do cachorro que iríamos comprar e no final, mudaríamos os dois de idéia. Teríamos logo dois cachorros. Ou três.
A nossa mudança, faríamos devagar que é pra gente não acabar tão cedo com essa sensação boa de coisa nova acontecendo o tempo todo.
Nós dormiríamos além da conta em nossa cama nova. Demoraríamos depois, no banho em nossos chuveiros especiais e nos atrasaríamos para o trabalho.
Passaríamos o dia inteiro com saudades um do outro e nos encontraríamos no começo da noite para comer alguma coisa e voltar para nossa casa.
Assistiríamos a um filme ou ouviríamos músicas boas, um muito perto do outro naquele sofá que mandamos trocar o estofado por aquele outro que combinava mais com a cor da madeira da estante.
Nos beijaríamos até a exaustão. Nos amaríamos como se fosse a primeira vez e dormiríamos, mais uma vez, além da conta na nossa cama fora dos padrões.