quinta-feira, junho 28, 2007

igual

Todo dia era sempre a mesma coisa. Aquela rotina batida, vida automática. O que mais me angustiava nem era a rotina em si, mas a falta de perspectiva de mudança. O medo de nunca, nada se tornar diferente. Mas acontece, que eu também tinha medo de mudar. Eu tinha tanto medo de mudança que comprava sempre o mesmo xampu, o mesmo creme, o mesmo perfume, as mesmas calcinhas na mesma loja. Quando ia para o seu trabalho, entrava todo dia no mesmo vagão do metrô. Encontrava lá as mesmas pessoas, o que a fazia crer que não era só eu que fazia as coisas do mesmo jeito sempre. O mesmo café da manhã, o mesmo almoço, as mesmas piadas, as mesmas conversas. O mesmo trabalho, discussões e brigas. A volta pra casa igual. O banho igual e o sono igual. Ela chegou a sonhar igual. Tudo igual.
Mas aí, tudo mudou.

segunda-feira, junho 25, 2007

Post # 100

Existe uma parte de mim que dói quando eu te vejo. Ela dói mais ainda quando eu te vejo e não posso te beijar.
Eu queria te beijar o tempo todo. O seu beijo é tão bom! A sua boca macia, sua língua quente, sua barba que me arranha. Sua mão que me segura com força. Seus braços que me apertam... Nós tínhamos que nos beijar toda vez que nos encontrássemos.
Eu não gosto de sentir o desconforto de não saber o que fazer com as mãos. De não saber que rumo dar para o meu olhar. De controlar meus instintos e não ir pra cima de você. O natural não é esse.

quarta-feira, junho 20, 2007

chuveiro feminista

Tinha acabado de desligar o chuveiro quando o telefone tocou. Até chegou a pensar se deveria ou não correr, mas vislumbrou a possibilidade de pegar uma pneumonia ou de se estatelar pelada no caminho da cozinha, que era onde ficava o telefone mais próximo, e acabou desistindo da ligação. Quem quer que fosse deixaria um recado na secretária eletrônica se fosse realmente importante.
Mas o telefone tocou só duas vezes e parou. Não teve recado na secretária. Ela então, começou a se enxugar e arrumar o seu cabelo dentro de um turbante de toalha pra secar melhor. Chegou a cogitar a possibilidade de buscar o telefone sem fio na sala, mas resolveu que não. Ela ia terminar o seu banho primeiro, depois pensaria em telefonemas.
Desde que o chuveiro de seu banheiro da suíte queimou, ela teve que vir tomar banho no banheiro social – já tinha uns 15 dias que ela só tomava banho lá – e ela percebeu que seu namorado, ou ex ou sei lá o que ele era, fazia mais falta do que ela imaginava.
Mas foi ela mesma que num ataque de feminismo resolveu dar cabo daquele relacionamento de quase um ano. E bem logo ela, a feminista, estava ali pensando na necessidade de um homem pra se arrumar um chuveiro.
O fim do namoro se deu quando Paulo, mais uma vez, gentilmente resolveu pagar a conta do restaurante onde eles comeram um delicioso risoto de camarão com direito a vinho importado e sobremesa flambada na mesa por aquele mâitre com um falso sotaque francês. Acontece que era a comemoração do primeiro salário que ela tinha recebido depois de ter sido promovida no escritório onde trabalhava, e ela fazia questão absoluta de pagar a conta. Ele por sua vez, muito cavalheiro, diga-se de passagem, quis pagar o jantar como uma espécie de presente.
Bastou ele entregar ao garçom sorridente o seu cartão de crédito para que ela começasse a levantar todas as questões e bandeiras do feminismo, falando que ele estava tentando se sentir superior, desvalorizar o salário dela, se impor diante dela, e coisa e tal. Começou a fazer um discurso tão grande que Paulo chegou a afastar a vela que estava na mesa pra que ela não resolvesse queimar o seu sutiã.
Ela saiu batendo o pé, se recusou a entrar no carro dele e pagou, com seu próprio dinheiro o táxi pra casa. E pronto. Fim.
Paulo ligou ainda na mesma noite umas oito vezes e ela não atendeu, mas depois de três dias ela acabou topando se encontrar com ele, mas eles não conversaram sobre o fim do relacionamento em nenhuma ocasião. Em todos os encontros, desde então, eles só faziam sexo e ela fazia questão de mandá-lo embora antes que quisesse começar a falar.
O telefone tocou de novo e dessa vez ela correu pra atender, mas já sabia quem era. Paulo a convidou pra sair. Ela terminou de se arrumar – caprichou horrores.
Mas só que dessa vez, diferente de todas as outras, o sexo foi ruim. Ela não conseguia parar de pensar no chuveiro quebrado. Pensava se pedia penico e implorava desculpas pelo seu rompante de feminismo exacerbado e pedia ajuda no chuveiro, ou se simplesmente perguntava o telefone de um eletricista – droga, será que é um bombeiro hidráulico?
Bom, ela se despiu dos seus conceitos pré-formados, percebeu que as relações são mesmo feitas dessas pequenas necessidades e dependências e que isso não desmerece ninguém. Ela resolveu fazer as pazes, Paulo arrumou o chuveiro (ele mesmo, embora tenha levado um pequeno choque sem maiores conseqüências) e agora cada vez um paga a conta dos lugares onde eles vão. E eles tomam banhos juntos no chuveiro arrumado, sem machismo e sem feminismo.

segunda-feira, junho 18, 2007

quanto muda?

Quanto da vida de uma pessoa muda logo após cada coisa? Cada fato?

Que diferença faz um trabalho bem feito? E um mal feito?

O que acontece depois de uma briga? De uma decepção?

Depois de um carinho? Uma noite mal dormida? Ou depois de uma boa noite de sono? Depois de momentos de diversão? De prazer intenso?

O que acontece depois que a gente perde alguém? E quando a gente ganha ele de volta? E se for outro? E se nunca for outro? E quando a gente ganha outra pessoa?

Quando a gente come alguma coisa gostosa? Quando a gente ganha um presente? Quando deixa de experimentar alguma coisa ou alguém?

Quando a gente sonha? Quando a gente não sonha? O que muda? E quando a gente fica quietinho pensando? O que muda quando a gente vê um filme bom? E um filme ruim?

E quando a gente passa a manhã toda na cama sozinha? E quando a gente está acompanhada? E quando está bem acompanhada?

O que muda quando eu escrevo? Leio? Opino? Penso? Escuto? O que muda quando eu aprendo? Quando eu engordo? Emagreço? Disfarço minhas imperfeições? Disfarço? Finjo sentir o que eu não sinto?

O que acontece quando eu me reprimo? E quando eu reprimo os outros? E quando eu me frustro?

Por que tanto muda em mim quando cada uma dessas coisas acontece? E o que é isso que muda?

quinta-feira, junho 07, 2007

post triste recolocado, por conta de pessoa tristes...

Eu estou triste. Definitivamente estou. Com uma tristeza sem fim. Mas é sem fim e sem um começo também. Eu estou com uma tristeza despropositada. Sem pé nem cabeça. Mas é uma tristeza que não vai embora, que insiste.Eu fico triste por que tenho sono, mas não quero perder tempo dormindo. Fico triste por que eu não leio, mas não quero ficar acordada até tarde. Fico triste trabalhando onde eu estou, mas sei que não poderia ter um lugar melhor pra mim agora. Fico triste por ter que andar de metrô, mas não iria de carro pro trabalho, nem se eu tivesse um. Fico triste quando não saio com meus amigos, mas tenho uma vontade enorme de descansar. Fico triste por saber que preciso me afastar um pouco, sabendo que poucas coisas no mundo me dão maior prazer do que estar próxima. Fico triste por causa de um comichãozinho que me dá no peito quando eu penso em amor, mas sei que eu preciso matar o que eu sinto. Fico triste quando vejo que eu estou conseguindo matar o que eu sinto. Eu sinto uma saudade, talvez, dos planos loucos que eu fiz. Me sinto triste pela amizade que eu perdi. Triste pelas palavras mal trocadas. Bom dias amargos. Me entristece saber que meu nome gera sentimentos ruins nas pessoas, embora eu saiba que ele também gere bons sentimentos. Me dá preguiça ter que explicar o que eu sinto, o que eu quero dizer. Fico triste quando não me entendem. Tinham que me entender sem mesmo eu ter que falar, mas não, nem quando eu explico, quando eu detalho, não adianta, não entendem. Fico triste por que eu não emagreço nem com a dieta mais xiita que já se ouviu falar, mas nem cogito a possibilidade de fazer algum exercício físico. Fico triste quando eu estou num bad hair day, mas não quero fazer nada a respeito. Fico triste de ter a obrigação de me sentir feliz, afinal tenho uma casa, uma família feliz, meu empreguinho e saúde, mas eu não me sinto plena e realizada com isso. Mas não quero fazer muito esforço pra me sentir plena e realizada de qualquer forma... Fico triste de ter uma saúde de ferro e torcer pra pegar um rotavírus ou torcer um pé só pra faltar no trabalho e poder descansar em casa. Fico triste de ter que me preocupar com rugas, manchas na pele e articulações enferrujadas por causa da idade, mas o tempo é cruel e acelera cada vez que eu penso nisso. Me entristece até o fato de eu querer exatamente o único incenso que eu não tenho, dos milhões que eu tenho, pra poder tentar meditar. Me entristece a minha falta de concentração, não consigo nem meditar, bons tempos aqueles em que eu conseguia. Fico triste o tempo todo, fico triste quando eu percebo que não passa de estar contente cada sorriso que eu dou. Fico triste mais ainda de perceber que a minha tristeza está dentro e que não há nada de fora que cure. Eu só ficaria contente. Fico triste por não ter mais 17 anos, por ter alisado os meus cabelos que eram tão lindos enroladinhos, por não querer aprender nada da faculdade, por não caber mais naquela calça que nunca tive coragem de jogar fora por que era a calça do parâmetro, por não poder pensar em ninguém quando eu ouço uma música bonita ou vejo um céu com muitas estrelas, por ter pouco dinheiro, pouco tempo. E a minha tristeza não vai embora e quanto mais triste eu fico, mais triste eu fico. Eu estou presa aqui. Não tem saída. Não tem pé, não tem cabeça. Não tem início, não tem fim. Não tem por quê nem pra quê.