quarta-feira, novembro 26, 2008

Pra minha amiga Cris!!!

Ser mãe é a coisa mais bacana que pode acontecer com alguém! Tudo! Cada parte disso, desde o comecinho!
Desculpem, meninos, mas vocês, pelo menos por enquanto, com a tecnologia disponível hoje, ainda não poderão passar por isso!

A mera possibilidade de "fazer uma pessoa" já é por si só, uma coisa muito louca. Quando você começa a perceber que aquilo que, a princípio, é só um resultado de exame - com um monte de números - que o seu médico traduziu como uma gravidez, tem um coração que bate (e bate forte), você muda o seu jeito de encarar a vida. De uma forma geral.

Quando um bebê se mexe dentro de você é uma das sensações mais gostosas que um ser humano pode sentir. É massa demais!! (tirando quando eles já estão mais grandinhos e resolvem se espreguiçar, e daí a sua barriga fica parecendo alguma coisa disforme por causa de uma cabeça que empurra o seu umbigo pra fora e um pé que se enfia por baixo de suas costelas e te impede de respirar por alguns segundos) (ou então quando eles ficam com soluço e a sua barriga fica pulando junto com eles por quase um dia inteiro, e é muito engraçado e divertido no começo, mas depois fica meio chato).

Mas a proximidade do nascimento da criança, além de abalar a estrutura mental e sentimental da mãe (não venha me dizer que o fato de a sorveteria não ter o sabor de sorvete que você quer não é um motivo totalmente razoável pra se chorar), passa a te dar também um certo medo da hora H. A tal hora do parto.

Tudo é muito tenso! Eu, por motivos alheios à minha vontade, não pude ter um parto normal (eu não sei como é uma contração ou uma dor de contração, sortuda, eu, né?), mas se eu pudesse, teria optado por uma boa cesariana com todas as anestesias que eu tenho direito! Existem formas bem científicas e precisas pra não correr o risco de fazer um parto antes da hora ou quando o bebê ainda não estiver pronto. Não é tão agressivo assim.

Acho lindo e louvável as mulheres que querem e fazem questão de passar por todo esse sofrimento do parto, por que "é melhor pro bebê" ou por que é "natural". Desculpe, mas fazer passar uma melancia por um lugar por onde mal passa um limão não é a minha concepção de um acontecimento natural, então, cortem a minha barriga, com bastante anestesia antes e não precisam filmar, ou descrever o que está se passando lá por baixo do lençol que nos separa daquele mundo bizarro de sete (vejam bem, sete) camadas de tecido e muito sangue.

Torça pra ter do seu lado algum anestesista ou enfermeira bem humorados que tire o seu foco da conversa dos médicos que é mais ou menos assim: “...olha, cuidado ali, ta sangrando muito...” “...você viu aquele filme que estreou ontem? Dizem que é muito bom - me dá a pinça – é com aquele ator que ganhou – bisturi – o Oscar com aquele outro filme – põe mais gaze aqui pra tampar esse buraco – que a gente viu lá na casa da Mariazinha...”.
O seu nervosismo aumenta a cada segundo. Nada dói. Nem a anestesia, na verdade, que pode parecer alguma coisa muito agressiva, uma vez que vão enfiar uma agulha de um tamanho considerável entre as vértebras da sua coluna, mas você ta tão preocupada com o fato de estar pelada numa sala com um milhão de desconhecidos que ocasionalmente verificam se a sua periquita raspada do jeito certo e o anestesista que te manda curvar as costas, abraçando o joelho – como se isso fosse possível (!) (meus peitos estavam tão grandes que eu não conseguia nem respirar quando na posição horizontal e a minha barriga tão absurdamente enorme que o meu centro gravitacional estava muito longe do original - isso é verdade – por isso as grávidas ficam meio desequilibradas, no sentido do equilíbrio mesmo), que você nem sente quando a tal agulhona entra.

Mas aí, no meio de toda aquela confusão, pessoas andando de um lado para o outro, bips de máquinas soando pela sala, aparelhos apertando o seu braço pra aferir a pressão a cada minuto e o dedo para os batimentos cardíacos e ainda o anestesista que resolve dar uma mãozinha e monta em cima de você e empurra com muita força mesmo a sua barriga pra baixo (o que te impede mais uma vez de respirar), no meio disso tudo você escuta um chorinho. Que começa meio fraquinho e vai ficando alto e alto e mais alto, como que alguém reclamando de alguma coisa do tipo: “eu tava quentinho e curtindo um barato por causa daquele remédio que vocês me deram e daí vocês me tiram pra esse lugar absurdamente claro e frio??? Me devolve lá pra dentro!!” Quando o pediatra vem te mostrar a fonte de tamanho barulho a sua vida muda de novo.

Mais um momento se congela na sua memória para sempre e você percebe que aquele carinha que te empurrava lá de dentro, e se mexia quando você ficava em uma posição que o desagradava e que algum tempo atrás era só um monte de números num resultado de exame, é agora a criatura mais perfeita que habita o nosso planeta! Você não se incomoda nem um pouco com todas as melecas nas quais ele está envolvido, nem com a carinha amassada que ele está e nem com o narigão enorme que ele tem. Ta lá a criatura mais perfeita já feita. Você não chora por que quer. Você simplesmente perde o controle de todos os seus sentimentos, chora, ri, fala coisas sem sentido e tudo o que você quer é que coloquem pra dentro da sua barriga o que deve voltar pra lá, joguem fora no lixo o que deve ser jogado, limpem aquela belezura nos braços daquelas pessoas desconhecidas, me costurem de volta (todas as sete camadas, por favor) e me levem pro quarto, onde eu vou poder lamber a minha cria. Acho difícil existir uma outra situação que gere uma emoção parecida com a de parir!

Até hoje eu me emociono de lembrar, de saber ou assistir casos dos outros e de imaginar uma criança vindo ao mundo!!

Agora, é bom que se saiba que o relógio nos prega uma peça depois que a gente passa por isso, e as coisas se aceleram de tal forma que se você se distrair, a partir daí você fatalmente vai perder alguma coisa. Um primeiro sorriso, uma primeira palavra, primeiro passo, andar de velotrol, de bicicleta - agora sem as rodinhas, “eu já sei escrever o meu nome” e até se surpreender quando o seu bebezinho – aquele narigudinho que a moça te mostrou naquele dia – chegar em casa feliz contando que a menina por quem ele é apaixonado na escola não namora mais o seu melhor amigo... e que quando ele for beijar ela, vai ser daqueles beijos que “roda a cabeça”. E a vela que esteve em cima do último bolo de aniversário marcava apenas 5 anos.

Aproveitem! Tenham filhos! Muitos deles! E sejam pais legais!

Texto escrito em 2006

quinta-feira, março 27, 2008

A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

Carlos Drummond de Andrade, falando por mim